Hoje, 30 de janeiro, é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional. Instituído em 1984, pela Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas de São Paulo, a data foi escolhida após uma pesquisa em que ficou confirmada a publicação do primeiro quadrinho brasileiro. Isso ocorreu em 1869, quando As aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma viagem à Corte, de Ângelo Agostini, passou a ocupar semanalmente as páginas da revista “Vida Fluminense”. Para marcar a data – que no meu calendário pessoal será também o início de um projeto que farei com uma amiga, o de ler uma graphic novel coreana –, decidi falar sobre um quadrinho nacional que é um dos meus favoritos: Daytripper, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá.
A dupla é reconhecida tanto nacional quanto internacionalmente, tendo recebido o primeiro Jabuti dado a uma HQ, em 2008, com O alienista, e o Prêmio Eisner, considerado o Oscar da categoria, com Daytripper, em 2011.
O enredo traz a história de Brás de Oliva Domingos, filho do renomado escritor Benedito de Oliva Domingos, que trabalha em um periódico escrevendo obituários e sonhando com uma carreira literária assim como a de seu pai. Justamente no dia de seu aniversário, ele parece esquecido, pois o acontecimento mais importante se torna a homenagem que o pai dele receberá pelos 40 anos dedicados à literatura, em um evento de gala no Teatro Municipal de São Paulo. Sim, a capital paulista aparece retratada diversas vezes nos quadrinhos.
Originalmente, Daytripper foi publicada em inglês como uma série mensal da Vertigo, de fevereiro a novembro de 2010, e quando saiu em volume único, em fevereiro de 2011, foi direto para a lista dos mais vendidos do “The New York Times”. Por isso, a narrativa é dividida em 10 capítulos que, em sua maioria, referem-se à idade do protagonista em algum momento importante da vida dele: o nascimento do filho Miguel; o desaparecimento do melhor amigo, Jorge dos Santos; ou o dia em que conheceu a mulher de sua vida na padaria, Ana.
Ao longo das páginas lindamente escritas e desenhadas, acompanhamos a trajetória de Brás, das pessoas que o cercam e daqueles de quem ele fala nos obituários. Em um dos capítulos, aliás, ele tem de falar sobre as vítimas de um acidente aéreo, que embora não seja dito, refere-se ao acontecido em 2007, mencionado como aquele que mudou “a vida de tantas pessoas – assim como a história da aviação brasileira para sempre”. (p. 154).
Por causa principalmente da profissão de Brás, a morte se infiltra em todos os momentos da história, mas o que parece realmente ser a mensagem central da obra é a de que as histórias devem ser vividas, começando com o questionamento colocado na contracapa da edição brasileira: “Quais são os dias mais importantes da sua vida?”, o que vai nos levar a refletir sobre nossas escolhas,
nossos sonhos, e de que forma estamos aproveitando nossa vida, sabendo que ela, da mesma forma que um livro, tem um fim. Nas páginas finais, os autores revelam:
“Cada referência, cada foto, cada cor e cada personagem, tudo foi construído de forma a reproduzir sentimentos. A sensação de que você está vivo, alegre, solitário, amedrontado ou apaixonado.
Queríamos aquela sensação de que a vida está acontecendo aqui, bem à nossa frente, e a estamos vivendo”.
O lirismo e a fragmentação da narrativa, que não é linear, traz um tom enigmático e de fantasia à história, o que particularmente torna-a ainda mais convidativa.
Ontem, este blog completou seis anos de existência. Para mim é sempre um motivo de celebração poder dividir um pouco das minhas impressões sobre livros e sobre a vida. Agradeço a cada um que divide comigo essa história.
Por fim, voltando a falar dos projetos, que geralmente colocamos em pauta a cada início de ano, aqui vai uma dica: fazê-lo em conjunto com um amigo ou amiga! Tem motivação melhor?
Desejo a todos um 2023 com tudo o que merece ser vivido e projetos na companhia de amigos!
Abraços,
Patrícia.
PS. Não consegui colocar a legenda na segunda imagem, mas trata-se de Brás quando criança. Daytripper, 2011, p. 107.
Daytripper
Título original: Daytripper
Fábio Moon e Gabriel Bá
Barueri: Panini, 2011.
Tradução: Érico Assis
256 páginas
Parabéns pelo post e pelo blog, Paty! Daytripper ainda está na minha lista, e sem dúvida o seu texto foi um belo convite a encaixá-lo em minhas leituras deste ano. Concordo com você, os projetos feitos na companhia de pessoas queridas tendem a ganhar mais força e fôlego. Vida longa ao seu blog e aos projetos também 🙂
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Muito obrigada, Erika! 🙂 Para mim é uma alegria saber que meu texto serviu para inspirar uma leitura, e essa de Daytripper realmente merece ser conhecida. Desejo o mesmo para seu blog e seus projetos! Beijos
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